Nossa Senhora do Bom Conselho

Quadro de Nossa Senhora do Bom Conselho
do Colégio São Luís, em São Paulo

Nossa Senhora do Bom Conselho (em latim Mater Boni Consilii) é uma invocação da Virgem Maria que está associada a um quadro atualmente exposto na cidade italiana de Genazzano, na Basílica Santuário Mãe do Bom Conselho. Essa devoção também recebe os nomes de Nossa Senhora de Escodra, Nossa Senhora dos Bons Serviços e Santa Maria do Paraíso.

A origem dessa veneração está ligada à Albânia, onde Nossa Senhora era cultuada sob esse e outros títulos desde tempos antigos, nas muitas capelas a ela dedicadas. Um desses locais de culto, localizado em Escodra, onde havia um quadro da Virgem, tornou-se um centro de peregrinação durante as guerras contra os otomanos.

Nesse local, segundo o relato miraculoso no qual o quadro está envolvido, dois albaneses devotos se prostraram ao pé da imagem, durante um cerco à cidade, e rezaram para que pudessem escapar com segurança. Em resposta à prece dos fiéis, a imagem se desprendeu do altar e flutuou no ar, saindo da igreja. Os dois homens, Gjorgji e De Sclavis, seguiram a pintura, que finalmente os conduziu até a Itália, onde desapareceu diante deles. Com base nessa história, muitos acreditam que o quadro hoje cultuado em Genazzano é a mesma obra que ocupava a capela albanesa, do outro lado do mar Adriático. 

Na capela do Colégio São Luís, há um quadro de Nossa Senhora do Bom Conselho cuja origem também está envolta em narrativas cercadas de devoção e mistério. Trata-se de uma tela a óleo, medindo 86 cm por 64 cm; num retângulo central, de 52,5 cm por 40 cm, está a figura de Nossa Senhora com seu Filho no braço esquerdo; na margem inferior, bem maior que a superior, veem-se os dois albaneses junto ao mar, a contemplar o quadro que se afasta, entre nuvens, conduzido por anjos, que aparecem nas margens laterais. Na realidade, o quadro não tem grande semelhança com o original de Genazzano: o desenho é sensivelmente diferente, as cores são menos delicadas e falta luz ao conjunto. Não obstante, reconhece-se o mesmo gesto meigo e afetuoso do menino Jesus e a atitude terna da Mãe, que está toda voltada para Ele. Não se sabe quem terá sido o seu autor, apenas que foi trazida ao Brasil pelo jesuíta José de Campos Lara.

José e seu irmão Miguel — que pertenciam a uma família de Itu — foram exilados do Brasil quando houve, em 1759, a expulsão da Companhia de Jesus do país. Como ainda não eram jesuítas formados, foram acolhidos pelo Papa Clemente XIII, em Roma, para terminar os estudos teológicos. Tendo concluído essa etapa, os irmãos foram ordenados sacerdotes. Pouco tempo depois, o padre Miguel veio a falecer. Sem o irmão e proibido de voltar a Itu, sua terra natal, o Pe. José de Campos Lara ainda teve de lidar com a dissolução da Companhia de Jesus, decretada pelo Papa Clemente XIV, em 1773.

Tendo se passado 25 anos desde que o Pe. Lara saíra do Brasil, certo dia, em 1785, ele caminhava por uma praia italiana quando apareceu diante dele um jovem desconhecido, de porte altivo e maneiras distintas, trazendo consigo um quadro a óleo de Nossa Senhora do Bom Conselho. Apresentou-se ao padre, pediu que levasse a obra para a sua terra natal e anunciou-lhe que, no lugar onde ela fosse venerada, se ergueria um grande colégio jesuíta. Respondeu-lhe o sacerdote que não dispunha de recursos para a viagem, mas o jovem garantiu que o comandante de um navio que acabara de entrar no porto o admitiria gratuitamente. Consolado com essa notícia, preparava-se o padre para se despedir de seu interlocutor, quando o rapaz desapareceu diante de seus olhos! Persuadiu-se assim o padre de que se tratava de uma visita celeste que o procurara sob aquela aparência. Confirmou-o nessa crença o fato de ter podido viajar de graça no navio que lhe fora indicado.

Chegando ao Brasil, o Pe. Lara desembarcou no porto de Santos e seguiu para Itu, levando consigo o quadro de Nossa Senhora do Bom Conselho. Na cidade natal, procurou erguer, na chácara que herdara de seus pais, uma capela onde se pudesse venerar o quadro da Virgem. Além disso, fez um sobrado para que fosse utilizado como seminário e colégio para meninos. Seus contemporâneos ouviram-no dizer muitas vezes, em tom profético: “Aqui, nesta chácara e sobrado, ainda virão os jesuítas estabelecer uma grande casa de educação”.