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Yoga, meditação e bem-estar no Colégio São Luís

Em entrevista, professora de Educação Física fala sobre os benefícios dessa prática milenar

Atualmente, vivemos em uma sociedade com excesso de informação e, cada vez mais, temos dificuldades de vivenciar o tempo presente. A rotina de compromissos, reuniões e atividades torna ainda mais desafiador o encontro pessoal, o momento de silêncio e reflexão, tão necessários para manter nossa saúde mental e bem-estar.

Na 3.ª série do Ensino Médio, ano de muito estudo e expectativas por conta dos vestibulares, a carga de cobrança interna pode ser ainda maior. Nesse contexto, momentos de meditação e exercícios de respiração podem ajudar muito os estudantes nesse período. No Colégio São Luís, os alunos desta série têm na grade curricular aulas de yoga, uma vez por semana. A prática tem ajudado os estudantes a controlar o estresse e a ansiedade [veja os depoimentos].

A professora de Yoga e Educação Física da 3.ª série do Ensino Médio Diurno, Andrea Cavalcanti Rocha Martins, explica que a prática da Yoga alivia as tensões do corpo, melhora a postura e ajuda no controle das emoções. Em entrevista, a educadora conta os desafios das aulas nesse período de pandemia e os benefícios dessa prática milenar.

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O que é Yoga? Quais os benefícios para o corpo e a mente?
Yoga, nos Yogas Sutras de Patanjali, um dos textos mais clássicos quando falamos dessa prática, é definido como “a diminuição das agitações da mente”. O Sistema do Yoga é composto de 8 partes:

  • Yamas: código ético ou treinamento de atitudes, que nos permitem não ser um problema para os outros (não violência, verdade, não roubar, moderação dos impulsos, desapego)
  • Nyamas: código ético ou treinamento de atitudes, que nos permitem não ser um problema para si mesmo (pureza, contentamento, esforço sobre si, autoanálise, entrega)
  • Asanas: posturas
  • Pranayamas: exercícios respiratórios
  • Pratyahara: abstração dos sentidos
  • Dharana: concentração
  • Dhyana: contemplação
  • Samadhi: autorrealização, estado alterado de consciência.

Todas essas partes compõem o Yoga e as três últimas (dharana, dhyana e samadhi) fazem parte do processo meditativo propriamente dito. A meditação não é possível de ser ensinada, só vivenciada. O que se ensina são técnicas que, pela experiência prática, levam a um estado diferenciado de mente. Assim, Yoga pode ser entendido não só como as técnicas, mas como um estado da mente em que buscamos relaxamento do esforço para que as experiências aconteçam.

É um método bastante completo e se preocupa em aliviar todas as perturbações da mente. Para as relações propõem-se códigos de conduta (Yamas e Nyamas); para o corpo, as posturas (Asanas); para as emoções, há os exercícios respiratórios (pranayamas); para as distrações externas, as técnicas de abstração (pratyahara); todas essas ações levam às práticas meditativas (Dharana, Dhyana e Samadhi).

Como eram as aulas de yoga antes da pandemia? E hoje, como são realizadas?
Antes da pandemia, as aulas eram presenciais e desenvolvíamos, juntos, todas as partes constituintes do Yoga [citadas acima]. Construíamos conceitos e experiências em conjunto. As aulas têm sempre um tema norteador e costumava iniciá-las com pequenos contos ou histórias. Depois, passávamos às práticas físicas, também conectadas ao tema do dia, trabalhando bastante a questão do relaxamento.

“As práticas de Yoga são mais bem aproveitadas se forem feitas de olhos fechados, para que possamos fazer um mergulho dentro de nós mesmos.”

Com a chegada da pandemia, assim como todas as outras aulas, rumamos para o ambiente on-line. Adotamos, primeiramente, a estratégia de aulas gravadas em Power Points, continuamos com a mesma estrutura, com os temas e conceitos, porém, com imagens das posturas e das técnicas do Yoga. Todos os slides são acompanhados de áudios. Assim, as aulas continuaram com a mesma estrutura, seguindo com os mesmos conteúdos que estavam em nosso planejamento, porém, em outro formato.

As práticas de Yoga são mais bem aproveitadas se forem feitas de olhos fechados, para que possamos fazer um mergulho dentro de nós mesmos. Assim, com os Power Points, a ideia é só olhar as imagens, fechar os olhos e seguir as orientações dos áudios. A estrutura da aula seguiu igual. Atualmente, estamos alternando os Power Points e as aulas ao vivo on-line, em que os alunos veem o professor e seguem as orientações para as práticas.

Quais são os desafios de realizar as aulas de Yoga a distância?
Se pensarmos que Yoga sempre foi passado de boca a ouvido (isto é, ou era, até então o tradicional), rumar para o ambiente virtual foi realmente um grande desafio. O professor sempre se guiou muito pelo que acontece no momento das aulas. Estar juntos, olhando uns para os outros nos permitem “leituras” corporais, emocionais e de detalhes muito ricas. Quando estamos juntos muitas coisas acontecem.

Não tínhamos referências de trabalhos a distância para nos apoiarmos. Sendo assim, a única maneira foi encarar a novidade e criar. Para mim, o maior desafio é a grande limitação de não ter tantas informações disponíveis e o desafio da conexão pessoal. Por outro lado, sendo Yoga uma disciplina que nos leva a uma grande introspecção, em busca de autoconhecimento, estarmos distantes, cada um na sua casa, pode permitir um mergulho maior dentro de si, sem tantas informações do grupo. Como tudo na vida, tem vantagens e desvantagens.

Nesse período de incertezas e de distanciamento social, como as técnicas de Yoga ajudam as pessoas, em especial os estudantes que estão na 3.ª série do Ensino Médio?
Praticar Yoga nos ensina a nos mantermos no momento presente, evitando viver no passado (lembranças) ou no futuro (preocupações e fantasias). Essas atitudes mentais (estar no passado ou no futuro) nos trazem sofrimentos. Nos desgastamos com o que já foi ou com o que ainda não aconteceu. E não temos energia suficiente para o que realmente é necessário.

Além disso, Yoga se baseia num verdadeiro treinamento de atitudes (não violência, verdade, pureza, contentamento…), que nos permitem viver melhor com nós mesmos e com os outros.

As aulas de Yoga para a 3.ª série do Ensino Médio foram adaptadas para o ambiente on-line.

Através das práticas, diminuímos o sofrimento físico, mental e emocional e vamos nos conhecendo e percebendo as emoções. Controlar a respiração pode nos ajudar com as emoções, assim como aceleramos a respiração quando estamos tensos, respirar mais devagar nos ajuda a acalmar. Além disso, as técnicas de atenção, concentração e meditação nos dão recursos para escolher nossos focos.

Os estudantes da 3.ª série do Ensino Médio estão submetidos a grandes estresses (hormonais, afetivos, de autoimagem etc.) relativos a esta fase tão conturbada da vida. Além disso, estão no final de um ciclo, o que traz muitas incertezas e angústias. Tudo isso associado à pressão das provas e dos vestibulares.

Com a enorme quantidade de estímulos, os jovens têm dormido pouco e todo esse conjunto de fatores pode trazer angústias e sérios problemas, desde cansaço a problemas físicos e mentais. E, este ano, com a pandemia, a situação ficou ainda mais delicada.

As técnicas de relaxamento nos ajudam a restaurar o corpo e a mente. Nas práticas de Yoga, os jovens conseguem relaxar, aliviar as tensões do corpo, melhorar a postura, controlar as emoções, por meio dos exercícios respiratórios, além de exercitar o foco, ou seja, as técnicas ajudam o jovem a focar nos estudos e a controlar a ansiedade e o nervosismo nos momentos das provas.

Você acredita que este ano, por conta da pandemia, a prática do Yoga tornou-se ainda mais importante para os alunos? Por quê?
Sim! Sem dúvida!

A pandemia nos tirou de nossa zona de conforto. De uma hora para outra, tivemos de nos afastar de nossos afetos e tivemos de lidar com muitas frustrações e incertezas. Quem não sente medo, apreensão, tristeza ou frustrações numa situação dessas!? Yoga tem por objetivo diminuir as agitações da mente. Assim, Yoga nunca foi tão importante porque nos ajuda a acalmar, a se perceber, a se conhecer e a se controlar. Uma ferramenta importantíssima para nos mantermos íntegros neste momento tão tenso e intenso.

“Nas práticas de Yoga, os jovens conseguem relaxar, aliviar as tensões do corpo, melhorar a postura, controlar as emoções […]”

Você poderia compartilhar conosco algumas dicas gerais e/ou sugestões de exercícios simples de respiração que ajudem as pessoas em momentos de ansiedade?
Controlar a respiração pode ajudar a controlar as emoções. A técnica mais simples e eficiente para acalmar é fazer respirações profundas, com a expiração mais longa que a inspiração. Soltar o ar longa e controladamente ajuda a acalmar o sistema nervoso.

Fechar os olhos e simplesmente observar sua respiração por alguns instantes também é bastante eficiente para nos trazer ao momento presente. Procure fazer pausas curtas, várias vezes, para se observar durante o dia.

Trazer à mente boas emoções, momentos felizes e pessoas amadas também nos ajudam a mudar o padrão mental.

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DICAS PARA MANTER A SAÚDE MENTAL E O BEM-ESTAR

Confira as dicas da professora para manter a saúde e o bem-estar nesses tempos de distanciamento social.

1) Manter a mente presente. Manter-se aqui e agora!
• É da natureza da mente pensar. E é da natureza da nossa sociedade estarmos imersos em um mar de informações. Yoga trata de estar presente ao que estamos fazendo.

• Desde que começou a ler este texto, quantas vezes sua mente já divagou? Você está fisicamente onde a sua mente está? Portanto, a primeira dica é cultivar o estado de presença.

• Procure estar presente, observando o que faz de forma relaxada. A mente vai divagar, perceba isso e a traga de volta para o que está fazendo!

• O mais importante não é o que fazemos, mas como fazemos.

Você está inteiro onde está? Ou você está lendo este texto, elaborando a lista de compras, imaginando as desgraças que podem vir a partir da pandemia, brigando com o amigo que falou algo de que não gostou, resolvendo o problema de matemática, pensando em outro trabalho…?

2) Escolha atitudes mentais positivas
• A pandemia já está instalada. Isso é um fato. Não é possível mudá-lo. Mas podemos escolher o que fazemos a partir dele. Vamos passar pela pandemia reclamando e nos revoltando? Ou vamos aproveitar as oportunidades que ela nos oferece?

• O que chamamos de isolamento, os antigos yogis chamavam de retiro. Uma grande oportunidade para nos conhecer, nos perceber e respeitar nossos ritmos.

• Aproveite esses momentos para observar sua casa e desfrutar dela (interna e externa), por exemplo. Às vezes, moramos em lugares incríveis e vivemos na janela ou na rua. Não aproveitamos as maravilhas que estão à nossa disposição. Mude o olhar!

• Olhe para cada detalhe da sua casa, cultive espaços e ambientes confortáveis.

Cultive atitudes de cordialidade, respeito e não violência com aqueles que convivem com você.

• Cultive atitudes de contentamento. Desfrute daquilo que você tem. Diminua expectativas!

• Aproveite para desfazer-se daquilo de que não precisa mais. Sejam bens materiais, pensamentos recorrentes e nocivos, atitudes e vícios ruins…. Geralmente temos mais do que precisamos (pratique o desapego).

• Agradeça pelo conforto, pela comida, pela saúde. Se tem quem cuide de você, agradeça!

• Olhe para as coisas e para as pessoas como se fosse a primeira vez. Tenha um olhar de curiosidade para tudo, como fazem as crianças.

Movimente seu corpo, mesmo em casa. Alongue-se. Espreguice-se. Boceje. Pratique Yoga e meditação.

“Respire fundo. Solte o ar devagar. Desafie-se a controlar a respiração com delicadeza.”

Respire fundo. Solte o ar devagar. Desafie-se a controlar a respiração com delicadeza.

Cultive a alegria. Feche os olhos e pense em pessoas, lugares, pets, situações ou qualquer coisa que lhe seja muito querida e amada.

• Cultive pequenos momentos de silêncio e descanso. Nosso sistema nervoso precisa disso!

• Treine manter a mente em um único pensamento (uma imagem, uma palavra, um sentimento…). Esse é o início do processo meditativo.

Evite passar o dia todo escutando notícias.

• Mantenha contato com amigos.

Escute músicas alegres ou relaxantes.

Praticar Yoga não se refere ao tempo em que estamos no tapetinho, mas a todas as outras horas em que podemos aplicar esses princípios simples, não necessariamente, fáceis.